domingo, 27 de janeiro de 2013

De apresentador de TV no Brasil a faxineira na Europa




Página virtual 14: http://www.gazetadooeste.com.br/edicao.php?data=2013-01-27




Graduação na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pós-graduação em Artes Visuais, mais de 30 cursos nas mais diferentes áreas, experiência em eventos, comércio, escritório, setor financeiro, vendas, como professora, Jornalista e até como apresentadora de TV em programa diário e ao vivo. Sabe para que esses títulos me serviram na Europa? Para nada. Nenhuma dessas comprovações me ajudou em nada aqui. As vivências delas sim, essas aí estão me ajudando...

Aqui, seja para qual for o cargo, querem gente fluente ou com o alto nível de inglês. Se você tiver certeza que quer morar um tempo fora, comece já seu curso de inglês. Não chegue “no zero”. Também é bom começar a ajudar em casa para ir pegando o jeito da coisa (risos). É muito difícil para quem não é fluente ter um emprego em uma área que não seja considerada subempregos (como os brasileiros chamam as vagas de empregos mais pesados). Mas vamos e convenhamos: subemprego aqui é luxo comparado ao Brasil. Na verdade nem da para comparar! Eu comecei, há algumas semanas, a trabalhar em uma academia como cleanear (no Brasil chamamos de faxineira). E estou aprendendo muito com meu trabalho.

Acreditem, sou privilegiada por ter conseguido meu emprego de “faxineira”. Estou em Dublin há um mês. Tenho amigos aqui há quase um ano que ainda estão desempregados. E por mais difícil que seja de acreditar, estou amando meu novo trabalho! Primeiro por possibilitar meus estudos (pagando minhas contas e exercitando o inglês com a vivência diária com os nativos), como também, o meu “job” me ajuda a entender mais sobre economia, educação, cidadania e o quanto nosso sistema (brasileiro) ainda precisa mudar. Aqui (na Europa) o trabalhador recebe por hora de serviço. Quanto mais se trabalha, mais se ganha.

Para uma empresa pagar alguém por mês o custo é alto, pois o contrato é, normalmente, de exclusividade. O salário mínimo realmente paga o mínimo (comida, moradia, se vestir e diversão). Para terem uma ideia, trabalho de segunda a quinta-feira (4 dias por semana), 3h/dia, e ganho bem mais que o piso salarial de Jornalista no Rio Grande do Norte. Fora que o serviço de limpeza aqui é algo totalmente diferente do Brasil. Não há nem como comparar. Meu serviço é basicamente passar aspirador de pó e limpar vidros. Também não posso esquecer que aqui todo trabalho é respeitado. Ninguém se acha melhor ou pior por conta do seu cargo ou atividade. Acreditem. É verdade!



Acho que intercâmbio é isso. Se misturar. Viver novas experiências. Se arriscar a tentar entender como as outras pessoas vivem, como conversam, do que gostam, as palavras que usam diariamente, como o trabalho é realizado em outros países, etc. De nada adianta viajar, passar anos longe de casa se não for para tentar verdadeiramente viver essa outra cultura. Inclusive, conheci uma senhora africana que mora há 12 anos em Dublin e NÃO fala inglês. Isso mesmo. Se você realmente não se esforçar para viver o idioma que estuda, de nada vai adiantar o investimento. Ainda mais no tempo em que vivemos, onde viajar ficou mais fácil e há brasileiros por todas as partes.

Atribuo minha contratação ao meu inglês (cheguei com o nível pré-intermediário de conversa e entendendo melhor que a média) e também a minha bagagem de vida. Como disse lá no início do texto, meus títulos não me ajudaram, mas as vivências em situações diversas ajudam sempre a encarar novas fases e desafios. Também atribuo meu emprego as boas amizades (inclusive aproveito para agradecer a Adriele Queiroz por me apresentar a prima dela que me indicou para a vaga – Ana Paula muito obrigada também).

Outra coisa importante para se falar é que em um país desenvolvido as empresas não procuram apenas currículos. Procuram pessoas com qualidades. Os currículos aqui (Europa) devem expressar como é a sua personalidade e o que você aprendeu por onde está ou já passou. Eles procuram pessoas que “SÃO” como eles querem. Se preciso, depois, eles ajudam a construir o “TER”, e formatar as qualificações necessárias. Isso é o mais incrível que achei. Se você vai a um restaurante ou conhece alguém em uma festa, ele não liga se você faz faxina ou se é apresentador de TV. Ele quer saber se você fala bem, se conhece sobre os assuntos que ele (a) gosta, se sabe conversar, quais músicas gosta de ouvir, se vai conseguir pagar a própria conta, entre outras.

Atribuo isso ao fato que aqui é comum estudantes europeus (inclusive de famílias ricas), ainda em fase de estudo, trabalharem em funções não muito boas (como: limpeza, lavando pratos, garçom, recepcionista, etc). Aqui o feio é não trabalhar. Feio é não querer melhorar. Não vencer por seu próprio esforço. Isso me lembra muito a minha querida e falecida avó Dulce que me criou e que em meio a sua simplicidade, sempre me ensinou que “feio é matar e roubar”. Tomei isso como exemplo e acho que essa foi a melhor herança que ela me deixou.

Ao planejar minha viagem a Europa eu já calculava que tivesse que enfrentar alguns subempregos. Temi muito não conseguir. Acho que esse foi meu maior medo. Se nunca consegui arrumar nem meu próprio quarto, imagina pensar em arrumar uma empresa! Confesso que me surpreendi comigo mesma e tenho me surpreendido ainda mais. Com tudo que estou vendo e vivendo, não poderia ser de outra forma, tenho percebido meu crescimento intelectual e humano evoluir a galopes.

Vivendo de pertinho essas histórias milenares, percebi que o Brasil é ainda um recém-nascido e que a história não é feita de “vontades”. Mas sim, de experiências (boas e ruins). E que muitas vezes, mesmo assim, ainda ficam erros que eternamente vamos tentar corrigir. Estou fazendo a minha parte. Acho que é assim que construímos um lugar melhor para todos. Com cada um fazendo o que pode, mesmo que isso não mude o mundo todo, mas altere algo a sua volta (por menor que seja a mudança). O importante é “ser brasileiro” e não desistir nunca! 

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