terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Conheça um lugar pelo transporte público que ele oferece


Todo domingo nossas viagens no jornal Gazeta do Oeste:  http://www.gazetadooeste.com.br/edicao.php?data=2013-02-10
página virtual número 14.

São Paulo – lugar de muito movimento, muita concentração de gente, não muito seguro, corre-corre diário e muita gente trabalhando. Curitiba – organizada, funcional, mais segura que a média brasileira, limpa e de gente muito educada. New York – o mundo todo se encontra por lá, gente de todas as nacionalidades se comunicando, fazendo negócios e movimentando a cidade. Vou te convidar a pensar comigo: se eu aplicar antes do nome de cada uma dessas cidades “O transporte público de” os adjetivos seguintes continuarão valendo para todos os casos. Fiquei pensando sobre isso e testando com diversos outros lugares.


 Acredito que isso aconteça pelo fato do transporte público ser uma característica de extrema necessidade em uma zona urbana. Primeiro por ele “movimentar” a cidade. E é a partir do transporte público, verdadeiramente existente, que o trabalhador pode realmente passar a viver em sociedade. Não é por menos que o transporte público é uma obrigação do Estado constitucionalmente.

Comecei a pensar nessas coisas ao ter uma aula onde a professora falou que “um lugar só é realmente desenvolvido quando todos usam transporte público e não quando todos podem comprar um bom carro”. A frase não era novidade para mim quando a ouvi aqui na Irlanda. Mas experimentar o caos e a funcionalidade me fez entender muita coisa, inclusive o peso dessa afirmação.


Aqui na Europa o cidadão pode desfrutar de boas rodovias para usar os próprios carros, aviões com preços incrivelmente baratos, metrôs, ônibus com linhas entre as cidades e países e trem. Por falar nele, os trens aqui (mesmo os mais antigos) são muito bem aproveitados. E eu, ao olhar com olhos brilhantes para os trens, fui interrogada: “e no Brasil não há trem?”. Respondi: tinha. Hoje em poucas cidades apenas. Aí veio a segunda pergunta: “Porquê?”.
Você sabe responder isso? Eu disse que acreditava que aqueles que “fazem” nosso país não precisam dele. Se precisassem, se vivessem verdadeiramente do nosso país, Estado ou cidade, saberiam cuidar melhor do que é do povo. Um lugar com transporte público que realmente funciona consegue “carregar” mais do que gente. Em cada ônibus, em cada trem ou metrô que circula, vai junto o poder de trabalho desse povo. As condições de melhorias daqueles que querem mudar para melhor.

Inclusive, percebi aqui o quanto a cidade com bom transporte público consegue “funcionar”. Existem muitas cidades próximas a Dublin (capital da Irlanda - onde estou morando) onde as pessoas dependem daqui para viver e/ou estudar. E graças a organização de transportes públicos que o trânsito da cidade consegue se mover. Quem precisa realmente do transporte para ir e vir conta com facilidades que barateia ainda mais esses custos e fideliza os passageiros. Eu, por exemplo, compro um cartão semanal onde tenho direito a pegar quantos ônibus precisar durante 5 dias seguidos. Esse cartão me faz pagar a metade do que gastaria pagando por unidade. E me possibilita passear pela cidade nos horários vagos.


Aqui também vejo facilidades que ajudam muito na organização desses transportes. Aqui é possível conferir pelo celular que horas o seu ônibus estará na parada que pretende pegar. Também é possível a locomoção de portadores de deficiência. É muito bonito olhar em todos os lugares “cadeirantes” se locomovendo independentes. Existe uma grande quantidade de ônibus (normalmente se espera no máximo 15 minutos por um ônibus) e eles possuem dois andares (conseguem levar o dobro de gente).
Vejo que o mais interessante aqui não é a riqueza (os transportes são simples, não há nada muito diferente do que temos acesso no Brasil).  A diferença é que aqui o serviço é feito para realmente funcionar. As coisas são oferecidas a pessoas que buscam verdadeiramente usar e todos tiram proveito disso. Os empresários que terão seus funcionários. A população que trabalha. Aqueles que usam e que não usam diretamente o transporte público tira dele muitos proveitos. E o melhor é perceber a cidade vivendo, se movendo e existindo como um todo. 

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